KI SHAN I ROMANI, ADOI SAN’ I CHOV’ BANI.
Aonde os Ciganos vão, eu sei que as Bruxas estão.
A palavra romani para designar “bruxa” é shuvihani (cujo masculino é shuvihano), mas algumas vezes ela é abreviada para shuvani e, em certas regiões, a sua referência é shu’ni. (Há também uma outra forma que é chuvihani.) O significado dessa palavra é “bruxa”, apesar de a sua significação mais antiga ser “uma pessoa sábia”: alguém que possui o conhecimento de todos os aspectos do oculto.
No interior da sociedade cigana, a importante função de abençoar e amaldiçoar, de curar e provocar doenças… a chuvihani é aquela pessoa que tanto é respeitada pela sua sabedoria como pelo seu entendimento das crenças e práticas mágicas. Ela também é quem detém todo o saber dos tabus sociais e dos ritos e rituais mágicos, tais como o batismo e o casamento. Não há cigano que a considere, seja la em que momento for, como uma pessoa maléfica ou repugnante. Para eles, ela é simplesmente aquela que possui um conhecimento singular, além de ter um poder que, de acordo com seus desejos, poderá ser usado para o bem ou para o mal.
“Os historiadores observaram que houve um súbito ressurgimento da bruxaria e feitiçaria ao século quinze, e não há a menor dúvida de que a chegada dos ciganos foi uma das causas para tal evento. Esse povo nômade chegou à Europa por volta do século catorze, provavelmente oriundo da Ásia. Trazendo com ele as práticas mágicas que estavam adormecidas na Inglaterra desde que a fé cristã se expandiu.”
Pois existe realmente uma possibilidade bem clara de que a chegada dos ciganos tenha sido a centelha que desencadeou o ressurgimento do paganismo e da prática da magia.
Eles podem ter sido charlatões sob diversos aspectos, mas não se tem como acusá-los de não possuírem certos poderes mágicos. Por isso que é afirmado que a fraude, o logro e a trapaça não foram a sua única bagagem ao longo de tantos séculos. Conforme nos diz o velho ditado, “onde a fumaça, há fogo”, talvez isto seja de alguma forma aplicado aqui. Mas apesar, de tudo, os ciganos também foram os Mantenedores dos Antigos Mistérios e vêm sendo, pelos séculos, um manancial do conhecimento mágico ao redor do mundo.
Existem muitas superstições no seio da tradição cigana. Assim, augúrios, tabus e profecias, tudo isso faz parte da vida desses nômades. Além disso, eles creem nos espíritos da terra, do ar, da floresta e do campo.
As shuvanis são justamente aquelas que conseguem comunicar-se com tais espíritos, e o fazem com certa regularidade. Entretanto, dentre os grupos de espíritos, três se destacam de modo especial:
Os do ar são bastante independentes e tanto podem ferir
como ajudar os humanos. Parece que eles se sentem mais gratificados
quando conduzem os humanos para o mau caminho!
Por outro lado, os da terra são reiteradamente descritos
como “nobres”. São amigáveis e estão sempre dispostos a dar um bom
conselho.
Já os espíritos da água constituem um caso à parte. Ao
mesmo tempo que são gentis e ajudam os humanos, eles podem ser por
demais vingativos e, se não forem completamente maléficos, não serão nem
um pouco agradáveis.
“As mulheres se superam nas manifestações de certas qualidades associadas com os mistérios e as influências e poderes ocultos”.
De fato, a quantidade existente das shuvanis é bem maior do que a dos shuvanos apesar de estes últimos serem tão considerados quanto as primeiras. A magia dos ciganos não se reduz a trapaças, mesmo que também recorram a esse expediente. No fundo eles creem, com muita convicção, em si mesmos e nos seus encantamentos, e por isso exercitam a magia para uso próprio. Além disso, eles acham que inúmeras mulheres, e uns poucos homens, têm a posse genuína dos poderes sobrenaturais herdados e parcialmente adquiridos.
Na verdade, não existe qualquer tipo de “cerimônia de
iniciação” para fazer com que uma pessoa se torne uma shuvani ou um
shuvano. Pois essa condição é alcançada a partir de um treinamento
gradual, que seja ele monitorado ou solidário. Ou seja, o aprendizado só
vem com o decorrer do tempo.
Em se tratando de magia, nunca se apresse! Pois são vários os atos mágicos que precisam ser realizados no tempo certo, que seja numa determinada hora do dia ou da noite, ou mesmo num certo período do mês. Portanto, não deixe de planejar com esmero tudo aquilo que deverá se feito.
Jamais tente trabalhar com a magia, movido apenas pelo impulso momentâneo, uma vez que raramente se consegue o sucesso quando se age assim. A magia- ou melhor, a magia bem-sucedida- vai sempre depender da energia, especialmente da energia da pessoal de quem a esta realizando. Porque essa energia (ou “poder”, ou qualquer nome que se queira dar a ela) é absorvida pelos instrumentos que são fabricados e manipulados, pelas palavras que são enunciadas, pelas ações que são representadas , e ainda pelo direcionamento dado no sentido de se obter o resultado. Procure realizar apenas a magia positiva. Certifique-se com cuidado, de que aquilo que você irá fazer não causará dano a nenhum ser. Aliás, faça mais do que isso; assegure-se de que o seu ato mágico não irá interferir no livre-arbítrio de ninguém.
Como já mencionei aqui, os Ciganos têm sido identificados
com as Bruxas e Feiticeiros, pelo menos desde o século quinze. Pois,
para se sustentarem vivos, eles se viram obrigados a fomentar a crença
de que retinham certo tipo de conhecimento arcano e de que realmente
eram adeptos das artes ocultas. Mais tarde, essa fama implicou com
fogueira para os ROM , uma vez que as pessoas de várias regiões
presumiam que eles mantinham tratos com o demônio. E a prova disso esta
numa cena comum daquela época, na qual a população, ao assistir ao
ciganos adestrando os animais e vendo, por exemplo, um cachorro andando
sobre duas patas, concluía que isso só podia ser fruto de algum tratado
firmado com o Diabo!
Os ciganos eram confundidos com as bruxas, em razão de sua
concepção sobre sabás que, na época, eram bastante populares. Toda
população sabia que as bruxas realizavam os sábas nas florestas ou nas
encruzilhadas das estradas. E talvez acontecessem situações em que os
moradores da cidade, passando tarde da noite por uma estrada, tenham se
deparado com algum grupo de ciganos tocando as suas canções, comendo,
bebendo, e que estivesse acampado na floresta ou em alguma encruzilhada
depois de ter viajado o dia todo.
Aos olhos do cidadão comum, que normalmente morria de medo
das bruxas, aquilo que ele via nada mais era senão um dos seus sabás!
Também é expressado a opinião de que as músicas e danças dos ciganos
aproximavam-se bastante daquelas que as bruxas realizavam.
O seu estilo de vida nômade dos ciganos fez com que eles
fossem tendo uma proximidade estreita com as ervas e flores selvagens,
que iam encontrando pelos caminhos. Produziram remédios, a base de
ervas, para os médicos das tribos, além de vendê-los para os habitantes
dos vilarejos, dizendo que eram elixires mágicos. E, se estabeleciam um
contato íntimo com a natureza, de igual modo como as bruxas, é bem
provável que tenham cultuado divindades idênticas com nomes diferentes.
As bruxas possuíam um vasto conhecimento a respeito das ervas.
A ligação estabelecida entre ciganos, bruxas e feiticeiros
durante o período da Idade Média não foi inteiramente incorreta, já que
os ciganos possuem um conhecimento que, apesar da tradição própria dos
romani, poderia ser classificado como “Antiga Feitiçaria”,ou seja, a
feitiçaria praticada pelos antigos pagãos.
Em suma, o conhecimento das ervas para o emprego na
cozinha, na cura e nos incensos; a utilização dos oráculos e dos
augúrios para auxiliar nas decisões, a feitura de feitiços e
encantamentos para direcionar os acontecimentos: tudo isso compõe a
bagagem dos mistérios dos ciganos.
Eles acreditam piamente em coisas tais como mau-olhado,
maldição, magia negra e muito mais. E, em função dessas crenças, detêm
vários modos de limpeza espiritual e exorcismo.
Entretanto, os ciganos não tem o hábito de lançar feitiços e
maldições sobre outros,mas certamente nunca hesitarão em mandar de
volta a negatividade que por exemplo um gadjo lhes tenha enviado.
Ao perceberem que algum mal lhes foi direcionado, sem que
consigam identificar quem assim o fez, não são poucas as maneiras que
eles têm para se livrar disso. E é exatamente a shuvani, a bruxa cigana,
que é especialista nesses assuntos.
Os ROM levam em consideração o “ mau-olhado “. Para eles, é
perfeitamente possível que uma pessoa possa fazer o mal à outra apenas
com o olhar, apesar de esse tipo de mal nem sempre ser liberado, já que
muita gente carrega o mau-olhado sem dar conta disso.