EGOÍSMO E APEGO
Notamos que todas as pessoas manifestam em seu caráter dois traços irmãos - egoísmo e apego - e que nos problemas complicados há sempre interferência desses sentimentos.
Temos casos de políticos que acabaram na miséria porque o apego às posições os fez perder a melhor oportunidade de se afastarem da vida pública. Eis um bom exemplo da inconveniência do egoísmo e do apego.
Há industriais que, devido ao apego que têm ao dinheiro e ao lucro, irritam seus fornecedores, prejudicando as transações comerciais. Momentaneamente, o negócio se lhes afigura vantajoso, mas, com o tempo, mostra-se contraproducente.
Na vida sentimental, quem muito se apega geralmente é desprezado; muitas vezes os problemas nesse terreno surgem do excesso de egoísmo.
O passado nos revela como os egoístas provocam conflitos e se atormentam, pelos sofrimentos causados ao próximo.
Já dissemos que o principal objetivo da Fé é erradicar o egoísmo e o apego. Tão logo me conscientizei disto, empenhei-me em exterminá-los. Como resultado, meus sofrimentos se amenizaram e tudo corre normalmente em minha vida. Há um ensinamento que diz: "Não sofra antecipadamente pelo que ainda não ocorreu, nem pelo que já passou". São palavras de grande sabedoria.
A finalidade do aperfeiçoamento no Mundo Espiritual é a extinção do apego. A posição do nosso espírito se eleva à medida que o apego se reduz.
No Mundo Espiritual, é raro que marido e mulher permaneçam juntos. A razão do fato está na diferença da posição que o espírito de cada um alcançou. O convívio dos dois só lhes será possível quando estiverem nivelados, como habitantes do Reino do Céu. Entretanto, aqueles que alcançarem certo grau de aperfeiçoamento, terão licença de se encontrar, embora estejam em camadas espirituais inferiores. Mas o encontro durará apenas um instante, e a licença lhes será concedida pelas divindades que superintendem os níveis em que eles estão situados. Não haverá permissão para que, levados pela saudade, os cônjuges se abracem; à mínima intenção de teor mundano, seus corpos ficarão rijos e perderão o movimento. Isso demonstra como o apego é condenável.
A posição do espírito vai se elevando de acordo com a redução do apego, mediante o aprimoramento no Mundo Espiritual. Sendo assim, o encontro de marido e mulher irá sendo facilitado conforme eles forem subindo de nível.
Creio que, com o que acabamos de dizer, demos ao leitor uma clara noção da diferença entre o Mundo Material e o Mundo Espiritual.
Outro aspecto negativo do apego refere-se às pessoas que se mostram insistentes quando convidam outras a participarem de sua crença, dando a impressão de serem muito dedicadas. Isso não dá bom resultado. Impingir a Fé é um sacrilégio aos olhos de Deus. Quem prega uma religião, só deve insistir se observar que o outro está interessado. Se a pessoa não demonstra interesse, é melhor desistir e esperar o tempo oportuno.
25 de janeiro de 1949
AMOR CORRETO E AMOR INCORRETO
Dizem que a fé é amor, mas existem vários tipos de amor: amor correto, amor incorreto, amor amplo, amor limitado, etc. É por isso que os que possuem fé não podem deixar de ter um entendimento correto sobre o amor.
Em primeiro lugar, darei exemplos de amor correto. Nele se inclui o amor no lar - entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos, etc. - e o amor relativo às demais pessoas, tais como amigos, parentes ou conhecidos. Por mais que esse tipo de amor aumente, não há nenhuma censura a fazer. O problema é o amor incorreto.
Obviamente, o amor incorreto é o oposto do anterior: quebra a hamonia entre marido e mulher, esfria as relações entre pais, filhos e irmãos, causa desentendimentos entre amigos e parentes, distancia as relações, etc. Isso é muito freqüente na sociedade, sendo causado pelo amor incorreto, ou pelo amor escasso.
Essa é uma classificação genérica do amor correto e do amor incorreto. Entretanto, entre esses tipos de amor, o que talvez precisa ser mais analisado é o amor-paixão. Como já tive oportunidade de explicar, mesmo nesse tipo de amor existe o correto e o incorreto. Naturalmente, o amor de jovens puros, que objetivam o casamento, é um amor-paixão correto. Mas o amor-paixão muito freqüente na sociedade, motivado por um impulso momentâneo, fútil, isto é, amor intempestivo como uma febre tropical, é amor incorreto. Em suma, o amor-paixão não embasado na Inteligência Superior[1] é amor incorreto. Se ele progride demais, invariavelmente gera situações trágicas. Isto porque, apesar de a pessoa ter esposo ou esposa, o amor-paixão é dirigido para terceiros. Existem pessoas que acabam caindo num destino catastrófico para o resto de seus dias e até perdem a vida por causa de um prazer de pouca duração. É por isso que devem acautelar-se ao máximo, pois não há nada que cause tão grandes prejuízos como esse tipo de amor-paixão.
Fiz uma crítica bem simples a respeito do bem e do mal no amor-paixão. Agora desejo explanar sobre a amplitude do amor. Como eu disse anteriormente, o amor entre familiares e o amor pelas coisas que nos rodeiam é amor de caráter "Shojo" (restrito), que pertence ao grupo do amor-próprio, sendo mais freqüente nas pessoas comuns. É inerente ao tipo comum das pessoas boas, existindo, também, nos agnósticos; quanto a estes, não tenho nada de especial a comentar, mas, em se tratando de verdadeiras pessoas de fé, é totalmente diferente. O amor dos que têm fé é "Daijo", ou seja, altruísta. Este amor "Daijo" ampliado ao máximo é o amor à humanidade, é o amor ao mundo.
Devemos atentar para o fato de que os japoneses, até o fim da Segunda Guerra Mundial, não conheciam o verdadeiro amor "Daijo". Para eles, a mais ampla e elevada forma de amor era o amor à pátria. Como todos sabem, seu maior objetivo consistia em dar a vida por ela, mas, como se tratava de amor "Shojo", resultante da crença de que isso era o que havia de mais importante, causou a lamentável situação em que o Japão se encontra atualmente. Portanto, como o amor limitado a um povo ou a uma classe não é verdadeiro, mesmo que se prospere por um momento, inevitavelmente acaba-se fracassando. Conseqüentemente, como eu disse antes, por mais que as pessoas se esforcem com um objetivo limitado, afirmando pertencer a esta ou àquela ideologia, não há possibilidade de grande sucesso. Tratando-se de ideologia, só o cosmopolitismo é verdadeiro. Nesse sentido, para que a religião seja aceita como a verdadeira salvação, ela também deve ser de caráter universal. É por esse motivo que a nossa Igreja teve seu nome completado com a palavra Mundial.
Já escrevi a respeito em outras oportunidades, mas insisto sobre o assunto porque, quanto mais observo o mundo atual, mais vejo pessoas infelizes.
É desnecessário dizer que, desde a antigüidade, a boa ou má sorte do homem constitui a questão mais difícil que existe. Talvez o ser humano esteja fadado, desde o momento em que nasce até o momento em que morre, a nunca se libertar do desejo de obter a boa sorte. Isso porque geralmente não conseguimos compreender aquilo que mais desejamos. Seria maravilhoso se o conseguíssemos, mesmo que fosse um pouco. Felizmente, eu adquiri clara compreensão dos fundamentos para se alcançar a boa sorte. Além disso, pelas minhas próprias experiências, verifiquei que eles não contêm o mínimo erro, de modo que os exponho com toda a convicção.
Conforme todos podem observar, não existe nada mais vago, abstrato e difícil de ser obtido que a boa sorte, algo tão simples. Não estando ela ao nosso alcance, a única alternativa que temos, naturalmente, é esperar por ela. Daí, talvez, o nome sorte. Concordo com as palavras: "A vida é uma grande aposta", pois até as pessoas consideradas sábias continuam a perseguir a boa sorte, embora pareçam ter perdido as esperanças de alcançá-la. Talvez esta seja a predestinação dos homens.
É unicamente pela vontade de alcançar a boa sorte que conseguimos fazer diversas coisas, seja qual for o sacrifício. Por esse motivo, também, é que "fazemos das tripas coração" e chegamos ao fim da vida sacrificando-nos para realizar nossos desejos. Assim, talvez, seja a vida. Não existe nada mais irônico que a sorte: quanto mais tentamos agarrá-la, mais ela foge. No Ocidente, existe um ditado que diz: "A oportunidade de obter a boa sorte só aparece uma vez na vida. Se a perdermos, não encontraremos outra". É exatamente assim.
Pela minha longa experiência, sinto que sou constantemente ludibriado pela sorte. Às vezes parece que vou consegui-la facilmente, mas tal não acontece. Quando a vejo bem diante de meus olhos e estendo as mãos para alcançá-la, ela acaba escapando. Quanto mais a perseguimos, mais rápido ela foge. É realmente difícil lidar com ela. Mas eu consegui agarrar de fato aquilo que se chama sorte. Entretanto, o que complica sua explicação é a existência de pontos desconhecidos que as pessoas dificilmente compreendem, salvo as que têm fé. Isto porque elas olham somente o lado superficial das coisas e não o seu interior; ou melhor, não o enxergam. E no caso da sorte, sua causa está justamente no interior; sem compreender isso, é impossível alcançá-la. Quando o homem movimenta o corpo, não é o corpo em si que se move; quem o faz mover-se é o espírito, que está dentro dele. Da mesma forma, o fator essencial da sorte está no interior do homem. Vou explicar melhor.
Em primeiro lugar, ampliemos a teoria acima. A parte superficial do mundo corresponde ao Mundo Material, e a parte interior, ao Mundo Espiritual, ou seja, o espaço invisível aos nossos olhos. Esta é a estrutura do mundo; assim o fez o Criador. Por isso, da mesma forma que o espírito move o corpo, o Mundo Espiritual move o Mundo Material. Em tudo, o Mundo Espiritual é soberano, e o Mundo Material, súdito. Portanto, o mesmo acontece com a sorte; basta que ela advenha ao nosso espírito, que se encontra no Mundo Espiritual, para que, refletindo igualmente na matéria, nos tornemos pessoas afortunadas.
Darei explicações mais detalhadas sobre o Mundo Espiritual.
Ele possui uma hierarquia muito mais justa e rigorosa que a do Mundo Material. É constituído de cento e oitenta camadas, distribuídas em três planos - Superior, Intermediário e Inferior - cada um composto de sessenta camadas. Naturalmente, o Plano Superior é o Céu; o Inferior é o Inferno; o Intermediário corresponde ao Mundo Material. Talvez o homem contemporâneo não acredite nisso de imediato; entretanto, como Deus me mostrou minuciosamente a relação entre o Mundo Espiritual e o Mundo Material, e, através de minha longa experiência, adquiri o mais profundo conhecimento sobre o assunto, não há o menor erro no que estou afirmando. Como prova disso, existem inúmeras pessoas que, acreditando nesse princípio e colocando-o em prática, conseguiram alcançar a boa sorte. Eu me incluo entre elas. Para se certificarem do que estou dizendo, basta que me analisem imparcialmente: constatarão o estado de felicidade em que eu me encontro.
Ampliando um pouco mais o assunto, falarei sobre as camadas espirituais mencionadas acima.
Se, conforme expus, o corpo físico do homem está no Mundo Material, e o espírito, no Mundo Espiritual, este deve situar-se numa das cento e oitenta camadas, a qual seria uma espécie de "residência" do espírito. Esta "residência" não é fixa; flutua constantemente para cima ou para baixo. Uma vez que o destino acompanha essa flutuação, o homem deve esforçar-se ao máximo para elevar-se às camadas superiores.
Naturalmente, o Plano Inferior é o Inferno; um mundo de trevas, repleto de doença, pobreza, conflito e figuras horrendas, assombrosas, monstruosas, com todos os tipos de sofrimentos possíveis. Em contraposição, quanto mais alta for a camada, melhor a sua condição. O Plano Superior é o Céu, local puro, de paz, luz, saúde e riqueza. O Plano Intermediário é mais ou menos a média entre os dois extremos. Conseqüentemente, se a "residência" do Mundo Espiritual reflete-se na matéria e transforma-se em destino, é claro que o princípio fundamental da boa sorte está na elevação do nível espiritual.
Como nos mostra a realidade, existem muitas pessoas que, tornando-se importantes e invejadas por terceiros, ficam orgulhosas e pensam que continuarão assim eternamente. Um dia, porém, de forma inesperada, vêem-se decaídas, arruinadas, regredindo ao estado anterior. Isto acontece porque, desconhecendo o fundamento da boa sorte, elas se baseiam quase que somente na força humana. Além disso, maltratam os outros e forçam situações. Assim, mesmo que, aparentemente, obtenham êxito, seu espírito está decaído no Inferno. Em conseqüência, pela Lei do Espírito Precede a Matéria, essas pessoas passam a ter o mesmo destino. Da mesma forma que a matéria, o espírito tem peso, de modo que, se ele for pesado, cai no Inferno, e se for leve, sobe ao Céu. A conhecida expressão "peso na consciência" refere-se exatamente a isso.
Ao contrário das más ações, que maculam o espírito e o tornam pesado, as boas ações o tornam leve, fazendo-o elevar-se. Por conseguinte, o segredo da boa sorte é evitarmos o mal, não cometermos pecados e praticarmos o bem o máximo possível, tornando leve o nosso espírito. Por se tratar da Verdade, afirmo que não há outra maneira para alcançarmos a boa sorte.
Explicada dessa forma, a teoria é realmente fácil de ser compreendida; entretanto, quando vamos colocá-la em prática, torna-se muito difícil. Existe, porém, um método facílimo para conseguirmos isso. Esse método não é outro senão a Fé. Portanto, as pessoas que realmente desejam obter a boa sorte, antes de tudo e mais do que tudo, devem se converter.
3 de fevereiro de 1954 Meishu Sama
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